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Quem realmente escreveu o Livro de Mórmon?
Uma coisa é certa: o próprio Livro de Mórmon dá muita atenção para responder a essa pergunta. De fato, uma das características mais notáveis do Livro de Mórmon é o fato de que seus quinze livros, todos eles supostamente narrativas históricas, são atribuídos a antigos autores israelitas que se referem a si mesmos por nome explicitamente na primeira pessoa. Embora este recurso seja amplamente conhecido, especialmente no que diz respeito ao versículo de abertura do Livro de Mórmon, "Eu, Néfi(...)" (1 Néfi 1: 1), o que não é amplamente conhecido é que ele expõe a origem moderna da obra. Este estudo irá explicar o porquê.
Autores e Guardiões das Placas do Livro de Mórmon
Os quinze livros dentro do Livro de Mórmon são atribuídos a onze autores diferentes. Como veremos aqui, cada um desses autores é dito ter sido um descendente de Leí, o patriarca que levou sua família de Jerusalém para as Américas no início do século VI a. C. Os primeiros seis livros são atribuídos a nove autores cobrindo os anos 600 a.C. a aproximadamente 130 a.C., com cada autor subsequente recebendo as placas de ouro diretamente de seu antecessor (ou seu pai ou seu irmão) em uma sequência geracional ininterrupta:
Cada livro tem o nome de seu autor, com o livro final desta série, Ômni, com o nome do primeiro de seus cinco autores, cada um dos quais tem apenas uma contribuição muito curta.
Os outros nove livros são atribuídos a dois autores:
Mórmon descreve-se como "descendente direto de Leí" (3 Néfi 5:20, ver também Mórmon 1: 5), assim como eram os nove autores dos seis primeiros livros1. Seu filho Morôni acrescenta mais tarde que ele e seu pai eram descendentes de Néfi (Mórmon 8:13). A narrativa de Mórmon cobre o período de cerca de 130 a. C. até cerca de 385 d.C.
Morôni termina o registro de seu pai (Mórmon 8: 1), inserindo no registro o relato das pessoas que habitaram a terra antes da chegada da família de Leí (O Livro de Éter recebe o nome do indivíduo cujo relato Morôni ali registra).
Assim, todos os onze autores dos quinze livros do Livro de Mórmon são descritos como descendentes de Leí através da linha de seu filho Néfi. É razoável supormos que todos os 22 homens2 que eram guardiões das placas de ouro desde Néfi eram seus descendentes. Isto é explicitamente o caso dos dez guardiões de Alma (2), descritos como nefitas (Mosias 17: 2; 28:20), até o descendente de Alma, Amaron, que teria confiado as placas a Mórmon (4 Néfi 1: 47-49 e Mórmon 1: 2):
Além disso, o Livro de Mórmon afirma que apenas os "descendentes de Néfi" foram autorizados a governar como reis (Mosias 25:13), o que confirma que Benjamim, que recebeu as placas de Amaléqui (Ômni 1:23, 25, Palavras de Mórmon 1: 10-11), era descendente de Néfi, assim como o filho de Benjamim, Mosias 2 (Mosias 1: 15-16), que recebeu as placas de Benjamim e depois as transmitiu a Alma 2. Assim, o Livro de Mórmon apresenta todos os 22 homens que, a partir de Néfi guardaram as placas de uma geração para a outra como seus descendentes.
Como o Livro de Mórmon identifica seus autores
Os autores dos livros são identificados de duas maneiras. Para nove dos livros, o nome do autor está no título do livro. Para os outros seis livros, que se diz terem sido compilados por Mórmon ou Morôni de escritos anteriores, o primeiro autor desses escritos anteriores serve como o nome do livro (por exemplo, Alma foi o primeiro autor do escrito Mórmon chamado O Livro de Alma)3. Os títulos de todos os quinze livros são entendidos como tendo aparecido nas placas de ouro e terem sido traduzidos por Joseph Smith mais ou menos literalmente. A única exceção é que os livros nomeados conforme os homens chamados Néfi foram numerados como 1, 2, 3 e 4 Néfi.
A outra maneira em que os autores são identificados é por declarações auto referenciadas na primeira pessoa do singular. Há centenas de afirmações singulares de primeira pessoa no Livro de Mórmon, mas mais especificamente há 158 declarações da forma "Eu, Néfi" e declarações de auto identificação direta similares apresentadas como tendo sido feitas pelos onze autores. Para ser mais preciso, há 148 declarações "Eu, Nome"; 6 declarações "(...)mim, Nome"; 3 declarações "Eu sou Nome” e 1 declaração "me chamo Nome" atribuídas aos onze autores. Há também cerca de 22 declarações auto identificáveis por figuras cujos escritos e discursos são resumidos no Livro de Mórmon, como Leí (2 Ne 1: 6, 9, 2:17) e Alma (Alma 5: 3, 61; 9:1, 31).4 Nossa abordagem aqui, no entanto, é especificamente com as 158 declarações de auto nomeação dos homens que o texto apresenta como os autores dos livros no Livro de Mórmon que Joseph Smith alegou ter traduzido.
A tabela abaixo fornece uma visão geral detalhada das 158 declarações de auto nomeação autoral no Livro de Mórmon:
Declarações de Auto Nomeação dos Autores no Livro de Mórmon (Na ordem ditada por Joseph Smith) |
|||||
LIVRO | CAPÍTULOS | IDENTIFICAÇÃO AUTORAL |
AUTOR | CITAÇÕES | ORIGEM |
Mosias | 29 | 0 | Mórmon | Placas Maiores de Néfi | |
Alma | 63 | 0 | |||
Helamã | 16 | 0 | |||
3 Néfi | 30 | 5 | (5:10-12, 20); 26:12 [bis]; 28:24 | ||
4 Néfi | 1 | 1 | 1:23 | ||
Mórmon 1-7 | 7 | 9 | 1:1, 5; 2:12; 3:11; 4:23; 5:8; 6:2, 6; 7:2 | ||
Mórmon 8-9 | 2 | 2 | Morôni | 8:1, (12) | Resumo das Placasde Éter |
Éter | 15 | 11 | 1:1; 3:17; 5:1; 6:1; 8:20, 26; 9:1; 12:6, 29, 38; 13:1 | ||
Morôni | 10 | 5 | 1:1, 3; 7:1; 8:1*; 10:1 | ||
1 Néfi | 22 | 68 | Néfi | Intro.; 1:1, 16, 20; 2:16; 3:1, 7, 9; 4:5, 14, 31; 6:1; 7:2, 3, 6*, 8, 16; 8:29; 10:1, 17 [bis]; 11:14*, 33; 12:12; 13:16, 19, 20, 23; 14:5*, 14, 27, 28; 15:1, 4, 19, 25; 16:1, 4, 7, 8, 16, 18, 21, 22, 23, 28, 30; 17:7, 11, 15, 19, 23, 49, 52; 18:2, 3, 10 [bis], 22; 19:3, 4, 18, 22; 22:1, 2, 21, 27, 29 | Placas Menores de Néfi |
2 Néfi | 33 | 24 | 1:1; 4:1, 14; 5:1, 5, 6, 12, 14, 16, 17, 18, 26, 29, 31; 11:2; 25:1, 2, 6, 7; 30:1; 31:1; 32:7; 33:1, 3 | ||
Jacó | 7 | 16 | Jacó | 1:1*, 2*, 8, 14, 17, 18; 2:2; 3:1, 12; 4:1, 15; 7:3, 15, 22*, 26, 27 | |
Enos | 1 | 5 | Enos | 1:1, 6, 11, 17, 19 | |
Jarom | 1 | 2 | Jarom | 1:1, 14 | |
Ômni | 1 | 7 | Os Cinco autores | 1:1, 4, 9, 10, (12), 23, 30 | |
Palavras de Mórmon | 1 | 3 | Mórmon | 1:1, 9, 11 | Placas Maiores de Néfi |
TOTAL | 239 | 158 | |||
Notas
"Eu sou ___" ou "Eu me chamo ___".
|
Algumas explicações para a compreensão desta tabela:
A tabela mostra que cada um dos onze autores se nomeiam no material que afirmam ter escrito. Isto é verdadeiro mesmo para "os cinco" do livro de Omni, cada um faz pelo menos uma afirmação (o último dos cinco, Amaléqui, tem três delas). Assim, o Livro de Mórmon identifica explicitamente seus autores tanto nos títulos dos livros como nas declarações em primeira pessoa dentro do texto, em que os autores se referem a si mesmos por seu nome.
Auto Referência dos Autores do Livro de Mórmon e Ordem de Ditado
Como já foi mencionado, a tabela apresenta as afirmações autorais na ordem ditada por Joseph Smith, não em ordem canônica (que começaria com 1 Néfi e terminaria com Morôni). O consenso de estudiosos SUD e não-SUD, hoje, é que Joseph Smith começou seu ditado do Livro de Mórmon com o Livro de Mosias e terminou com Palavras de Mórmon.5 A razão por que ele fez isso tem a ver com a perda das primeiras 116 páginas de manuscrito que Joseph tinha ditado em 1828. Evidentemente que o manuscrito perdido cobriu desde o período de Leí, o patriarca que levou sua família para as Américas no início do século VI a. C., até o rei Benjamin no final do século II a. C. Joseph supôs que o manuscrito tinha sido roubado e temia que, se tentasse ditar o mesmo material novamente, as páginas perdidas apareciam e diferiam de seu novo ditado. Para evitar esse cenário, Joseph anunciou que o Senhor, prevendo que os ladrões alterassem o manuscrito perdido, o tinha instruído a traduzir em seu lugar um relato diferente, mas um tanto paralelo, encontrado no que Joseph chamou de "Placas Menores de Néfi".
Se considerarmos a ordem pela qual os livros do Livro de Mórmon foram ditados (que não foi a ‘ordem canônica’), observamos um padrão nas ocorrências de auto nomeação dos autores.
Como Joseph não sabia se o manuscrito perdido reapareceria, quando ele retomou seu ditado, ele não começou com esse relato paralelo, mas continuou ditando a partir de onde ele havia interrompido a narrativa, com o reinado de Benjamin, por volta do início do atual Livro de Mosias.6 Só depois de ditar o restante dos livros até chegar a Morôni, ele produziu a tradução das Placas Menores (de 1 Néfi até Ômni) para substituir a narrativa que cobria o período de Leí a Benjamim.
No entanto, a distribuição de declarações de auto nomeação autoral no Livro de Mórmon correlaciona com a ordem em que Joseph ditou o manuscrito. Entre 3 Néfi 5 e Palavras de Mórmon temos 158 ocorrências em 117 capítulos, cerca de três a cada cinco páginas.
Estranhamente, no entanto, não há auto nomeação autoral de Mosias 1 a 3 Néfi 4, um trecho contínuo de 122 capítulos e cerca de 271 páginas da versão impressa em inglês do Livro de Mórmon (51% de seus 239 capítulos e de suas 531 páginas).
A ordem pela qual essas declarações no Livro de Mórmon são revisadas parece fazer a diferença. Se lermos o Livro de Mórmon em ordem canônica, descobrimos que o primeiro quarto tem muitas auto nomeações autorais (125 em 144 páginas de 1 Néfi até Palavras de Mórmon), a metade do meio não tem nenhum (de Mosias 1 a 3 Néfi 4), e o último terço do livro tem uma boa quantidade deles (33 em 116 páginas de 3 Néfi 5 a Morôni 10).
No entanto, um padrão muito mais simples aparece quando lemos na ordem ditada por Joseph Smith. Durante a primeira metade de seu ditado (Mosias 1 a 3 Néfi 4), não há declarações de auto nomeação autorais; na segunda metade de seu ditado (3 Néfi 5 até de Palavras de Mórmon) existiram 158 afirmações desse tipo. Este fenômeno precisa ser explicado e merece uma atenção maior.
Explicações que tratam os Autores do Livro de Mórmon como Históricos
Há duas explicações aparentemente simples para a falta de auto nomeação autoral na primeira metade do manuscrito que Joseph Smith ditou.
Uma dessas explicações é baseada no fato de que a metade do Livro de Mórmon sem auto nomeação autoral é atribuída a Mórmon. Dado esse fato, pode-se supor que Mórmon simplesmente escolheu não chamar a atenção para si mesmo da maneira que os outros autores fizeram.
No entanto, esta explicação não funcionará. Mórmon é creditado com mais da metade do Livro de Mórmon. Ele é creditado em 337 das 531 páginas do Livro de Mórmon em inglês (64%), ou 147 de seus 239 capítulos (62%).
No primeiro trecho do ditado (112 capítulos de Mosias a 3 Néfi 4) o autor, Mórmon, nunca se identifica. A partir deste ponto até o fim dos registros a ele atribuído (35 capítulos), Mórmon se identifica 18 vezes.
Talvez uma explicação melhor seria que Mórmon não fez nenhuma declaração autoral de nomeação própria nos livros que ele escreveu como resumo de trabalhos anteriores de outros autores. Isto explicaria a ausência destas auto noemações nos livros de Mosias, Alma e Helamã. No entanto, esta explicação também não funciona, pelo menos, três razões.
(1) Há cinco auto nomeações de Mórmon em 3 Néfi e uma no curto livro de 4 Néfi. Ambos os livros também são supostamente resumos de obras anteriores de outros autores.
(2) O livro de Éter é dito ter sido um resumo por Moroni de um trabalho anterior, e há 11 declarações autorais de Morôni em seus 15 capítulos.
(3) Mórmon se refere a si mesmo na primeira pessoa do singular pelo menos sete vezes nos livros de Mosias, Alma e Helamã (Mosias 8: 1; 28: 9, 20; Alma 22:35; 43: 3; Helamã 2:14, 3:17), apenas sem dar o seu nome.
As explicações acima pressupõem a historicidade dos autores do Livro de Mórmon tratam como uma coincidência o fato de que a primeira metade do ditado de Joseph não tinha referências autorais de auto nomeação; enquanto a segunda metade estava cheia de referências. Porém, a possibilidade de que não tenha sido uma coincidência precisa ser considerada.
Como os Autores do Livro de Mórmon se apresentam
Há outro problema que torna a Segunda Explicação vista anteriormente como completamente insustentável. A primeira das declarações de auto nomeação de Mórmon apresenta-o aos leitores como se fosse pela primeira vez:
E eis que me chamo Mórmon (...) Eis que sou discípulo de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Fui por ele chamado para anunciar sua palavra ao povo, a fim de que tenham vida eterna (...) Eu sou Mórmon, descendente direto de Leí.” (3 Néfi 5: 12-13, 20). |
O que é intrigante sobre essa auto introdução é esta ser bastante tardia na narrativa de Mórmon. Ele já tinha escrito o que nas edições impressas modernas são 122 capítulos ou 271 páginas antes de oferecer essas declarações sobre si mesmo como o autor.
Ainda mais intrigante é atentarmos como o resto dos autores do Livro de Mórmon se apresentam. Todos os outros dez autores se apresentam no início de seus escritos:
PRIMEIRO LIVRO DE NÉFI SEU GOVERNO E MINISTÉRIO Relato sobre Leí, sua mulher Saria e seus quatro filhos, que se chamavam (a começar pelo mais velho) Lamã, Lemuel, Sam e Néfi (...) Isto, segundo o relato de Néfi; ou, em outras palavras, eu, Néfi, escrevi este registro. Eu, Néfi (...)faço, por isso, um registro de meus feitos durante minha vida.” ( Néfi – Título, introdução e 1:1) |
LIVRO DE JACÓ IRMÃO DE NÉFI As palavras de sua pregação a seus irmãos (...) Pois eis que aconteceu que cinquenta e cinco anos se passaram desde a época em que Leí deixara Jerusalém; e Néfi deu a mim, Jacó, um mandamento concernente às placas menores, nas quais estão gravadas estas coisas. E ele ordenou a mim, Jacó, que escrevesse nestas placas algumas das coisas que eu considerasse muito preciosas (...)” (Jacó, título, 1: 1-2) |
LIVRO DE ENOS “Eis que aconteceu que eu, Enos, sabia que meu pai era um homem justo – pois instruiu-me em seu idioma e também nos preceitos e na admoestação do Senhor – e bendito seja o nome de meu Deus por isso (...)” (Enos, título, 1: 1) |
LIVRO DE JAROM “Agora, eis que eu, Jarom, escrevo algumas palavras segundo o mandamento de meu pai, Enos, para que nossa genealogia seja preservada.” (Jarom, título, 1: 1) |
LIVRO DE ÔMNI “Eis que aconteceu que eu, Ômni, sendo ordenado por meu pai, Jarom, a escrever algo nestas placas, a fim de conservar nossa genealogia (...) e eu havia guardado estas placas segundo os mandamentos de meus pais, e confiei-as a meu filho Amaron. E aqui termino. Agora eu, Quêmis, o pouco que escrevo faço-o no mesmo livro que meu irmão (...) Eis que eu, Abinadom, sou filho de Quêmis (...) Eis que eu sou Amaléqui, filho de Abinadom (...) (Ômni, título, 1: 1; 3,4, 8, 9,10, 12) |
“E eis que eu, Morôni, termino o registro de meu pai, Mórmon. Eis que tenho poucas coisas para escrever, coisas que me foram ordenadas por meu pai.” (Mórmon 8: 1) |
Auto-Introdução de Mórmon: Por que tão tarde?
Estudiosos Mórmons que notaram o problema geralmente sugeriram que Mórmon pode ter se apresentado no início de seu trabalho no material que estava nas 116 páginas perdidas. Grant Hardy fez o seguinte comentário (em tradução livre)7:
“A perda das 116 páginas complica a discussão, já que Mórmon poderia ter se apresentado no início de seu registro (no agora perdido "livro de Leí") de modo muito semelhante ao de Néfi. De Mosias a 3 Néfi, sempre que o narrador usa o pronome "Eu", ele parece assumir que os leitores já sabem quem ele é. |
Brant Gardner segue este raciocínio. Se esses estudiosos tiverem razão, então Mórmon se apresentou no início do Livro perdido de Leí (as páginas perdidas de 116 manuscritos) e depois se apresentou mais de 400 páginas depois.8 No entanto, como reconhece Gardner (mas não Hardy), a plausibilidade de uma auto introdução anterior por Mórmon só intensifica a dificuldade: se Mórmon se apresentou mais cedo, por que ele volta a se introduzir em 3 Néfi 5?
Gardner sugere que 3 Néfi 5 apresenta "a introdução pessoal de Mórmon", diferentemente da "introdução mais formal" que Mórmon teria dado no início de seu registro. Ele explica a razão para a segunda introdução "como uma introdução de Mórmon, o apóstolo, e não Mórmon, o editor"9.
A teoria de Gardner simplesmente não se encaixa nos fatos do texto de 3 Néfi 5. Neste ponto uma citação estendida da passagem é necessária:
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A passagem de 3 Néfi é claramente a auto introdução completa do autor, Mórmon. Especulações de que ele havia se introduzido no registro que se perdeu (as 116 páginas) não explicam essa nova e tardia auto apresentação.
A auto introdução de Mórmon termina neste ponto. O resto do capítulo consiste em garantias proféticas de uma futura reunião e restauração da semente dispersa de Jacó (3 Néfi 5: 20b-26).
O papel de Mórmon como autor e editor claramente domina sua auto introdução, respondendo por 272 palavras de 367 palavras no original (5: 8-11, 14-19), ou seja, 74% da passagem. Informações pessoais sobre o nome de Mórmon, herança e linhagem representam 64 palavras no original, (5:12, 20a), cerca de 17% da passagem. As referências ao status de Mórmon como um "discípulo", em contraste, ocupam apenas 31 palavras (5:13), meros 8% da passagem. Portanto, interpretar a passagem como “uma introdução de Mórmon o apóstolo, não Mórmon o editor" simplesmente não é plausível.
Mórmon faz precisamente nessa passagem os tipos de coisas que os outros autores no Livro de Mórmon fazem quando se apresentam pela primeira vez:
A passagem em 3 Néfi 5 era então claramente destinada a ser a auto introdução de Mórmon, desempenhando a mesma função na narrativa como as auto introduções que iniciam os escritos atribuídos aos outros dez autores do Livro de Mórmon. No entanto, este achado, apesar de estar bem apoiado no texto, é obviamente incompatível com a ideia de que Mórmon já havia escrito o equivalente a mais de quatrocentas páginas impressas.
Esta discrepância leva a uma conclusão que é bastante óbvia, mas insatisfatória para aqueles que insistem na autenticidade histórica do Livro de Mórmon: Joseph Smith criou a auto introdução de Mórmon.
A auto introdução de Mórmon como a solução de Joseph Smith para um problema
Sabemos com um grau bastante elevado de confiança que depois da perda das 116 páginas, Joseph Smith começou seu novo ditado do Livro de Mórmon com Mosias. O que essas 116 páginas continham com exatidão é desconhecido. Sabemos que Smith ditou de Mosias até 3 Néfi 4 em grande parte na terceira pessoa, com apenas usos ocasionais da primeira pessoa singular, "eu", pelo narrador. Está faltando não apenas o Livro de Leí, mas também o início original do Livro de Mosias. É provável, como Hardy e Gardner sugeriram, que uma auto introdução por Mórmon existisse no início do Livro de Leí; o primeiro dos livros que ele deveria ter escrito como um resumo de uma obra anterior.
Joseph Smith decidiu começar seu novo ditado onde ele havia parado, no Livro de Mosias, muito provavelmente porque ele esperava que as páginas perdidas surgissem antes que ele precisasse substituí-las. À medida em que o ditado progredia, ele teria percebido que as chances de as páginas aparecerem diminuíam. Depois de ditar Mosias, Alma e Helamã, Smith evidentemente decidiu que ele precisava apresentar o narrador, mesmo que a introdução deveria ter lugar no início de seu relato.
Smith, portanto, compôs uma nova auto introdução para Mórmon em 3 Néfi 5. Então, como o relato de Mórmon sobre as visitas e os discursos de Jesus aos nefitas estava terminando, Joseph começou a incorporar naquela auto apresentação declarações além do que era necessário para uma simples introdução de autor, começando com três declarações de Mórmon no fim de 3 Néfi (26:12; 28:24), uma em 4 Néfi (1:23), e nove em Mórmon 1-7.
Com os escritos de Mórmon terminando, doravante Joseph Smith fez com que cada autor se apresentasse por nome no início de seu relato, como vimos anteriormente: Morôni (Mórmon 8: 1); Néfi (1 Néfi 1: 1); Jacó (Jacó 1: 1); Enos (Enos 1: 1); Jarom (Jarom 1: 1); E os cinco profetas no livro de Ômni (Ômni 1: 1, 4, 9, 10, 12). Exceto pelos quatro autores de Ômni cujos relatos combinados somam apenas onze versos (Omni 1: 1-11), cada autor do Livro de Mórmon é mostrado fazendo declarações de auto nomeação adicionais.
A conclusão plausível é que uma nova introdução foi criada por Joseph Smith como estratégia de composição do Livro de Mórmon.
Mórmon também se refere a si mesmo no início das Palavras de Mórmon (1: 1), mas não para se apresentar; já que este livro é apresentado como tendo sido escrito depois de Mosias até Mórmon 7, pouco antes de ele passar as placas para Morôni (embora no cânon, Palavras de Mórmon seja anterior a Mosias).
Smith escreveu Palavras de Mórmon (1: 1-11) no final de seu processo de ditado, acrescentando-o entre as "placas menores de Néfi" (1 Néfi-Ômni) e as "placas de Mórmon" para explicar a estrutura complicada do conjunto, necessário após a perda das 116 páginas.
Esta reconstituição de como o Livro de Mórmon chegou a ter sua primeira introdução autoral quase na metade - em 3 Néfi, , explica todos os fatos conhecidos de forma plena e plausível. Isso não pode ser dito para a noção de que Mórmon compôs duas auto introduções - uma das quais se perdeu. Além disso, a distribuição de todas as declarações autorais de auto nomeação na segunda metade do ditado de Joseph Smith do Livro de Mórmon é melhor explicada como uma mudança na estratégia de composição de Joseph. Estas duas conclusões apóiam fortemente a conclusão mais ampla de que Joseph Smith é o verdadeiro autor do Livro de Mórmon.
NOTAS
1. John L. Sorenson, “Book of Mormon Peoples,” Encyclopedia of Mormonism, ed. Daniel H. Ludlow (New York: Macmillan, 1992), 1:191. rant A Gardner chama isso de "leitura mais conservadora", mas não oferece alternativa específica; ver Second Witness: Analytical and Contextual Commentary on the Book of Mormon (Salt Lake City: Greg Kofford Books, 2007), 5:275.
Segundo o Livro de Mórmon, os povos que habitavam a terra durante esse período incluíam "o povo de Zaraenla", liderado por Muleque (que se diz ter sido filho do último rei de Judá, Zedequias) que escapara de Jerusalém por volta da mesma época em que Leí se estabeleceu em uma área diferente (Ômni 1:14-21; Mosias 25:2; Helamã 6:10; 8:21).
Isso significaria que apenas alguns dos habitantes da terra seriam descendentes de Leí. Estudiosos SUD ansiosos para argumentar que toda a população da terra nunca foi apenas Israelita, portanto, não podem legitimamente apelar a 3 Néfi 5:20 para sustentar tal posição.
Conforme Ugo A. Perego e Jayne E. Ekins, em “Is Decrypting the Genetic Legacy of America’s Indigenous Populations the Key to the Historicity of the Book of Mormon?” (Está Descifrando o Legado Genético das Populações Indígenas da América a Chave para a Historicidade do Livro de Mórmon?) publicado em Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 12 (2014): 242 (237-79). Perego e Ekins reconhecem em uma nota de rodapé (n. 7) que 3 Néfi 5:20 pode simplesmente distinguir a ascendência de Mórmon da do povo de Muleque. Pelo descendente "puro" o texto pode significar que a árvore genealógica de Mórmon não incluiu antepassados dos Mulequitas, ou talvez que Mórmon fosse um descendente direto patrilinear de Leí.
2. A figura de 22 homens assume a visão usual de que o homem identificado como Néfi em 4 Néfi 1:19 é um homem diferente daquele cuja escrita foi a base para o livro de 3 Néfi. Isso é realmente incerto dadas as informações no texto. Seguindo a convenção SUD padrão, um número de subíndice é usado para diferenciar homens do Livro de Mórmon com o mesmo nome, por exemplo, o filho do primeiro Alma é designado Alma2. O Néfi creditado como fonte de Mórmon para 3 Néfi só acontece de ser o terceiro homem cronologicamente no Livro de Mórmon com esse nome, daí Nefi3.
3. Observe que esta explicação também explica a nomeação do Livro de Ômni, que, embora não seja um resumo de obras anteriores, é creditado a cinco autores e é nomeado para seu primeiro autor. Esta é uma explicação mais simples do que a teoria de Gardner de que as mudanças nos nomes de livros estão relacionadas a mudanças "nas dinastias governantes e à passagem das placas dentro e fora dessas dinastias"; Gardner, Second Witness, 3:94. Gardner admite que a mudança de padrão que ocorre de Helamã até 3 Néfi não se encaixa em sua teoria.
4. Veja também a declaração de "Eu, Mórmon" em um discurso de Mórmon citado no livro de seu filho (Morôni 7: 2).
5. O caso foi apresentado de forma mais completa pelo estudioso não-SUD Brent Lee Metcalfe, “The Priority of Mosiah: A Prelude to Book of Mormon Exegesis,” ("A Prioridade de Mosias: Um Prelúdio à Exegese do Livro de Mórmon") em New Approaches to the Book of Mormon: Explorations in Critical Methodology, ed. Brent Lee Metcalfe (Salt Lake City: Signature Books, 1993), 395-444; e também pelo estudioso SUD John W. Welch, “The Miraculous Translation of the Book of Mormon,” ("A Tradução Milagrosa do Livro de Mórmon") em Opening the Heavens: Accounts of Divine Manifestations, 1820-1844, ed. John W. Welch, Documents in Latter-day Saint History (Provo, UT: BYU Press; Salt Lake City: Deseret, 2005), 115-17 n. 111 (77-213).
Outros acadêmicos SUD concordam com esta posição, inclusive Matthew Roper, “A More Perfect Priority?” [revisão of Metcalfe], Review of Books on the Book of Mormon 6/1 (1994): 362 (362-78); Royal Skousen, ed., The Original Manuscript of the Book of Mormon: Typographical Facsimile of the Extant Text (Provo, UT: FARMS, 2001), 33; Alan Goff, “Positivism and the Priority of Ideology in Mosiah-First Theories of Book of Mormon Production,” FARMS Review 16 (2004): 11-36; Brant A. Gardner, The Gift and Power: Translating the Book of Mormon (Salt Lake City: Greg Kofford Books, 2011), 298-99; e Jack M. Lyon and Kent R. Minson, “When Pages Collide: Dissecting the Words of Mormon,” BYU Studies Quarterly 51/4 (2012): 122-23 (120-36).
6. O que é agora As Palavras de Mórmon 1: 12-18 evidentemente faziam parte dos capítulos iniciais de Mosias (onde, sob este ponto de vista, o presente capítulo 1 deveria ser o capítulo 3) ou composto por Joseph Smith para substituir o material de abertura perdido de Mosias. Para a teoria anterior, veja, Lyon e Minson, “When Pages Collide”; Para a última teoria, ver Brant A. Gardner, “When Hypotheses Collide: Responding to Lyon and Minson’s ‘When Pages Collide,’” Interpreter: A Journal of Mormon Scripture 5 (2013): 105-119. Em ambas as visões, as Palavras originais de Mórmon (se existisse) teriam consistido apenas em Palavras de Mórmon 1: 1-11.
7. Grant Hardy, Understanding the Book of Mormon: A Reader’s Guide (Oxford: Oxford University Press, 2010), 296 n. 9.
8. Os livros de 1 Néfi até Ômni, que substituíram as 116 páginas de manuscritos perdidas, são aproximadamente 115 páginas manuscritas. Assim, a partir da presumida auto-introdução de Mórmon no início de seu Livro de Leí para sua segunda auto-introdução em 3 Néfi 5 seria aproximadamente 415 páginas, o mesmo que o número de páginas de 1 Néfi 1 a 3 Néfi 5.
9. Gardner, Second Witness, 5:272-73.