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Influências Maçônicas e Ocultistas no princípio do Mormonismo

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Influências Maçônicas e Ocultistas no princípio do Mormonismo

Joel B. Groat

A ligação íntima de Joseph Smith com o Ocultismo e a Maçonaria não é bem conhecida fora dos círculos acadêmicos. Este artigo resume as evidências do envolvimento de Smith em tais práticas e como isso influenciou a origem e o desenvolvimento da religião Mórmon. 

"Não há absolutamente nenhuma dúvida em minha mente que a cerimônia Mórmon, que veio a ser conhecida como Investidura, introduzido por Joseph Smith aos Maçons Mórmons, teve uma inspiração imediata da Maçonaria" - Dr. Reed Durham, Historiador SUD

O vínculo do Mormonismo com o Ocultismo

Tanto Joseph Smith quanto seu pai estavam envolvidos na prática oculta conhecida como "escavação de dinheiro". Isso envolveu rituais especiais e cerimônias que foram realizadas com o objetivo de recuperar tesouros enterrados que teriam sido guardados por espíritos malignos. Relatos de escavações de dinheiro durante o final de 1700 e início de 1800 estão documentados no artigo de Alan Taylor, "Treasure Seeking in the American Northeast, 1780-1830," publicado no periódico American Quarterly, 38 (Primavera de 1986), páginas 6 a34. Este artigo menciona especificamente Joseph Smith, Sr., e Jr., nas páginas 10 a12, dando exemplos de suas atividades de escavação de dinheiro. O professor de Seminário SUD, Grant Palmer, também documenta as crenças e práticas ocultas da família Smith, bem como as de seus associados mais próximos, em seu livro An Insider's View of Mormon Origins (SLC, Signature Books, 2002, pags 175-195).

O Envolvimento de Smith no Ocultismo. O papel do jovem Joseph Smith, Jr. na busca de tesouros era especialmente importante por ele tinha uma pedra vidente. Smith colocaria esta pequena pedra especial em seu chapéu e puxaria o chapéu para o rosto para bloquear toda a luz. Ao fazer isso, ele afirmava poder ver o sobrenatural, e com isto poderia ajudar os  escavadores, localizando os lugares onde os tesouros haviam sido enterrados e distinguindo os espíritos que os estivessem guardando. O próprio Smith Jr. admitiu ser um escavador de dinheiro, embora ele dissesse que a prática nunca lhe foi muito rentável (History of the Church, V. 3, p.29). Smith e seu pai prosseguiram a prática de ”escavação de dinheiro” até pelo menos 1826. Em 20 de março daquele ano Joseph Smith foi preso, trazido diante de um juiz, e acusado de ser um "vidente" (glass looker) e uma pessoa desordeira. As leis naquela da época tinham o que era conhecido como o "Vagrant Act", que definiam um “desordeiro” como alguém que fingia ter habilidade nas áreas de quiromancia, prever o futuro ou descobrir onde bens perdidos poderiam ser encontrados. De acordo com registros judiciais, o juiz Neely determinou que Joseph era culpado, embora nenhuma penalidade fosse aplicada, muito possivelmente por ser réu primátio (Inventing Mormonism, Marquardt e Walters, SLC: Signature Books, 1994, pp.

Ocultismo e o Início do Mormonismo. Pouco depois disso, Smith deixou a escavação de dinheiro, mas manteve sua pedra vidente. Foi com a ajuda esta pedra vidente que ele alegou ter encontrado as placas que teriam escrito o Livro de Mórmon; e que também o ajudou a traduzi-lo. Isto era conhecido por conversos iniciais, mas desde então tem sido substituído por relatos posteriores de um visitante angélico. Esta transição visou minimizar o fato polêmico de que Morôni era na verdade o espírito de um guerreiro indígena morto -  referindo-se a ele como um anjo. O ex-professor da  Universidade Brigham Young e historiador D. Michael Quinn escreve:

“Durante este período de 1827 a 1830, Joseph Smith abandonou a companhia de seus antigos sócios de escavação de dinheiro, mas continuou a usar para fins religiosos a pedra marrom vidente que ele tinha empregado anteriormente na busca do tesouro. Seu uso mais intensivo e produtivo da pedra vidente estava na tradução do Livro de Mórmon. Mas ele também ditou várias revelações a seus associados através da pedra” (Early Mormonism and the Magic World View, D. Michael Quinn, Signature Books, SLC, 1987, pag 57 – em tradução livre).

Este fato é apoiado pelo autor SUD Richard S. Van Wagoner:

“Essa pedra, ainda mantida pela Primeira Presidência da Igreja SUD, foi o veículo através do qual as placas de ouro foram descobertas eo meio pelo qual sua interpretação veio” (Sidney Rigdon: A Portrait of Religious Excess, 1994, pag 57 – tradução livre).

Observamos então que os historiadores documentaram uma continuidade entre as primeiras e assumidas práticas ocultistas de Joseph e as origens do Mormonismo. Esta conexão se estende ao desenvolvimento da cerimônia do Templo SUD.

Paralelos Ocultistas na Cerimônia do Templo SUD. O historiador D. Michael Quinn fez extensa pesquisa sobre ritos e antigos mistérios relacionados ao ocultismo. Ele afirma,

“Com base apenas nas descrições da Cerimônia de Investidura autorizadas pelos líderes SUD, creio que é possível ver, dentro do contexto histórico, como a  Investidura Mórmon refletiu os mistérios antigos e ocultistas muito mais próximos do que a Maçonaria atual” ( Early Mormonism and the Magic World View , pag.186 -  tradução livre) .

Quinn descreve então as dez características essenciais comuns aos rituais ocultos e às cerimônias do Templo Mórmon:

  • Eles são revelados por Deus desde o início, mas distorcidos através da apostasia;
  • Eles colocam ênfase na dignidade dos iniciados;
  • Eles incluem lavagens e unções, um novo nome e novas roupas;
  • Enfatizam os votos de não-revelação;
  • Existem rituais "menores" e "maiores";
  • Apresentam o ritual através de dramatização; 
  • Contém um juramento de castidade com exigência de pureza e virtude estritas dos participantes; 
  • O sol, a lua e as estrelas são proeminentes, símbolos-chave na cerimônia; 
  • O propósito do ritual é ajudar os mortais a alcançar a divindade;
  • Eles empregam títulos e ofícios de profetas, sacerdotes e reis para os líderes.

Depois de listar estes paralelos, Quinn conclui:

Certamente, os rituais maçônicos também compartilhavam algumas semelhanças com os antigos mistérios, mas estes não estavam ligados a qualquer conceito de ascensão celestial, que são fundamentais tanto para os mistérios ocultos como para a Investidura Mórmon. Portanto, quais semelhanças possam existir entre a Maçonaria e o Mormonismo parecem mais apropriadamente ser consideradas superficiais; enquanto que os antigos mistérios ocultos e a investidura Mórmon manifestam tanto o parentesco filosófico como o estrutural.” (Ibid., Página 190 – tradução livre).

Mormonismo e Maçonaria

A influência da Maçonaria sobre Joseph Smith e o Mormonismo foi observada por vários historiadores. Esta influência pode ser apontada na vida pessoal de Smith, na  cerimônia de Investidura do SUD e mesmo no Livro de Mórmon.

Temas maçônicos relacionados ao Livro de Mórmon. John L. Brooke, em seu livro The Refiner's Fire: The Making of Mormon Cosmology, 1644-1844, observou o seguinte, em referência à história da descoberta das placas de ouro e da estrutura narrativa do Livro de Mórmon:

“A Maçonaria fornece um ponto de entrada nesta história muito complexa. Como tinha sido [no estado de origem de Smith], Vermont, a fraternidade maçônica era uma característica dominante da paisagem cultural no condado de Joseph Smith em Ontário (...) A densa rede de Lojas e Capítulos ajuda a explicar o simbolismo maçônico que atravessa a história da descoberta das placas de ouro [que continham o Livro de Mórmon Original] . Um dos mais evidentes é a história de sua descoberta em uma abóbada de pedra no alto de uma colina, que ecoa o mito de Enoque da Maçonaria do Arco Real. [Neste Mito], o profeta Enoque, instruído por uma visão, preservou os mistérios maçônicos esculpindo-os em uma placa de ouro, que colocou em abóbada de pedra arqueada marcada com pilares, onde seria redescoberta por Salomão.

Nos anos seguintes, o profeta Enoque desempenharia um papel central na cosmologia emergente de Smith. As histórias de Smith de suas descobertas foram se tornando mais elaboradas com o tempo, e em junho 1829 [Smith] prometeu a Oliver Cowdery, a David Whitmer e a Martin Harris que veriam não somente as placas mas outros artefatos maravilhosos: o Urim e Tumim afixados a um peitoral sacerdotal, a ‘Espada de Labão’ e ‘bússulas milagrosas’ [Liahoanas]. Oliver Cowdery e Lucy Mack Smith descreveram mais tarde três ou quatro pequenos pilares segurando as placas. Todos esses artefatos têm análogos maçônicos (...)

“As fontes de Smith para esses símbolos maçônicos estavam bem perto. Obviamente, Oliver Cowdery teria sido uma fonte, dado que seu pai e seu irmão eram iniciados do Arco Real; Um morador de Palmyra se lembrou de Oliver Cowdery como " membro de nenhuma igreja e maçom" (...) Um comentário de Lucy Mack Smith, [mãe de Joseph Smith],  em seu manuscrito escrito nos anos 1840, protestava que a família ‘não abandonou todo o trabalho doméstico’ para tentar 'ganhar a faculdade de Abrac, desenhar círculos mágicos ou fazer advinhações’, sugere uma familiaridade com manuais maçônicos, [embora a senhora Smith negasse o envolvimento de sua família com os mesmos]: a "faculdade de Abrac" estava entre os supostos mistérios maçônicos” (Refiner's Fire, Cambridge University Press, 1994, pp. 157-158, tradução livre; textos entre colchetes foram acrescentados).

No entanto, não foi até mais tarde na vida que o envolvimento de Joseph tornou-se mais pessoal.

O Envolvimento Pessoal de Smith na Maçonaria. O Apóstolo Mórmon John A. Widtsoe declarou:

“Muitos dos Santos foram maçons, como o irmão de Joseph, Hyrum, Heber C. Kimball, Elijah Fordham, Newel K. Whitney, James Adams e John C. Bennett (...) Com a aquiescência do Profeta, membros da Igreja que já que eram maçons pediram ao Grão-Mestre de Illinois permissão para instalar uma loja em Nauvoo (...) em 15 de março de 1842, quando dada autorização para montar uma  loja em Nauvoo e para induzir novos membros. Joseph Smith se tornaria um membro” (Evidences and Reconciliations, 1 volume, pp. 357-358 – tradução livre).

Joseph Smith admitiu ser um maçom em sua  History of the Church (História da Igreja), volume 4, página 551. Sob a data de 15 de março de 1842 lê-se: "À noite eu recebi o primeiro grau em Maçonaria Livre na Loja Nauvoo, conferido em Meu escritório de negócios geral. " O registro para o dia seguinte diz: "Eu estava com a Loja Maçônica e subi para o grau sublime" (página 552 – tradução livre).

Como a afiliação maçônica de Joseph afetou o desenvolvimento da Igreja Mórmon? A área mais significativa parece estar no desenvolvimento das Cerimônias do Templo Mórmon. Como mencionado acima, Joseph se tornou Maçom em 15 de março de 1842 e "subiu ao grau sublime" no dia seguinte. Menos de dois meses depois, em 4 de maio de 1842, Joseph introduziu a cerimônia de doação do templo (History of the Church, Vol. 5, pag. 1-2).

Maçonaria e as Cerimônias do Templo Mórmon. A influência penetrante da Maçonaria nos Templos Mórmons é bem expressa pelo historiador SUD Dr. Reed Durham. Dr. Durham, que serviu como presidente da Mormon History Association, fornece uma série de paralelos interessantes entre os dois, evidenciando a influência da Maçonaria no Mormonismo.

“Estou convencido de que no estudo da Maçonaria há uma chave fundamental para entender mais profundamente Joseph Smith e a Igreja (...) A maçonaria na Igreja teve sua origem antes do tempo em que Joseph Smith se tornou um Maçom (...) Começou na casa de Joseph quando seu irmão mais velho se tornou um  Maçom . Hyrum recebeu os primeiros três graus de Maçonaria na Loja Moriah No. 112 de Palmyra, Nova York, aproximadamente na mesma época em que Joseph estava sendo iniciado na presença de Deus (...) Os muitos paralelos encontrados entre o Mormonismo primitivo e a Maçonaria daquele dia são substanciais(...)

“Tentei até agora demonstrar que as influências maçônicas sobre Joseph na história primitiva da Igreja, antes de sua adesão formal à Maçonaria, foram significativas. No entanto, essas mesmas influências maçônicas exerceram um caráter mais dominante, como refletido na expansão posterior da Igreja subsequente à adesão maçônica do Profeta. De fato, creio que há poucos desenvolvimentos significativos na Igreja, ocorridos depois de 15 de março de 1842, que não tinham alguma interdependência maçônica. Permita-me comentar alguns desses desenvolvimentos. Não há absolutamente nenhuma dúvida em minha mente de que a Cerimônia Mórmon, que veio a ser conhecida como Investidura (Endowment), introduzida por Joseph Smith aos Maçons Mórmons, teve uma inspiração imediata da Maçonaria. Não estou a sugerir que nenhuma outra fonte de inspiração poderia ter sido envolvida, mas as semelhanças entre as duas cerimônias são tão aparentes e esmagadoras que alguma relação dependente não pode ser negada. Eles são tão semelhantes, na verdade, que um escritor foi levado a se referir ao Endowment como a Maçonaria Celestial.

Também é óbvio que a arquitetura do Templo de Nauvoo era em parte, pelo menos, influenciada pela Maçonaria. Na verdade, parece que houve uma tentativa intencional de utilizar símbolos e motivos  maçônicos(...)

Outro desenvolvimento na Igreja de Nauvoo, que não foi tão obviamente considerado como inspirado maçonicamente, foi o estabelecimento da Sociedade de Socorro Feminino. Esta organização foi a tentativa intencional do Profeta de expandir a Maçonaria para incluir as mulheres da Igreja. Que a Sociedade de Socorro foi organizada na sala da Loja Maçônica, e apenas um dia depois que a Maçonaria foi dada aos homens, não foi uma casualidade (...) [foram] incluídas no vocabulário do conselho de Joseph Smith e instruções para as irmãs palavras como: Ordens antigas, exames, graus, candidatos, segredos, lojas, regras, sinais, fichas, ordem do sacerdócio e chaves; Tudo indicando que a orientação da Sociedade possuía matizes maçônicos.

(...) Sugiro que haja evidências suficientes para declarar que toda a instituição do reino político de Deus, incluindo o Conselho dos Cinqüenta, a constituição viva, a proposta bandeira do reino e a Unção e Coroação do Rei, teve sua gênese em conexão com pensamentos maçónicos e cerimônias (...) aparentemente o Profeta primeiro abraçou a Maçonaria e, em seguida, no processo, ele foi modificando, expandindo, amplificando ou glorificando [influências] (...) O Profeta acreditava que a sua missão Era restaurar toda a verdade, e depois unificá-la e uni-la em um só. Esta verdade era referida como "os Mistérios", e estes Mistérios estavam inseparavelmente ligados ao Sacerdócio (...)  Alguém pode negar essa influência maçônica sobre Joseph Smith e sobre a Igreja, antes ou depois da sua adesão maçônica pessoal? A evidência exige comentários (..).

Há muitas perguntas que ainda exigem as respostas (...) se nós, como historiadores mórmons, respondemos a essas perguntas e miríades como elas relativas à Maçonaria de à moda do avestruz - com nossas cabeças enterradas na areia da tradição, então eu submeto : Nunca haverá 'qualquer ajuda para o filho da viúva' (Mormon Miscellaneous, outubro de 1975, pp. 11-16, citado em  Changing World of Mormonism, de Jerald e Sandra Tanner, 1981, pp. 546-547, tradução livre; textos entre colchetes foram acrescentados).

Estas declarações demonstram que grande parte do ritual religioso dentro do Mormonismo encontra sua origem no ocultismo e na Maçonaria. Não é de surpreender que haja uma sobreposição entre o ocultismo e a Maçonaria no Mormonismo, uma vez que a Maçonaria em si é proveniente de tradições e rituais obscuros. O que se torna óbvio é que Joseph Smith negligenciou a clara proibição da Bíblia em relação ao envolvimento em coisas ocultas. Isto é encontrado em Deuteronômio 18: 9-12 que declara,

não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações.
Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro;
Nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor.

Deuteronômio 18:9-12 (NVI)

Para saber mais: Consulte o Livro “Diga aos Mórmons que Eu os Amo”, de Rosaine D. Scruff.

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Fontes

As seguintes fontes em inglês contêm um tratamento mais extenso das práticas mágicas e ocultas de Joseph Smith e de sua cosmovisão: 

  • John L. Brooke,  The Refiner's Fire: The Making of Mormon Cosmology , 1644-1844, Cambridge University Press, NY, 1994, 421 páginas. Este autor não Mórmon é professor associado no Departamento de História da Universidade Tufts.
  • Grant H. Palmer,  An Insider's View of Mormon Origins, ( Signature Books , SLC, 2002, 281 páginas). Palmer é professor de seminário SUD e por três vezes diretor dos Institutos de Religião SUD na Califórnia e em Utah.
  • D. Michael Quinn,  Early Mormonism and the Magic World View ,  (Signature Books, SLC , edição revisada e ampliada 1998, 646 páginas.) Este trabalho é abrangente e completamente documentado. O autor é um ex-professor da BYU e um dos mais respeitados historiadores do mormonismo.
  • Jerald e Sandra Tanner,  Mormonism, Magic and Masonry, Utah Lighthouse Ministry, SLC, 1983, 97 páginas. Este casal ex-Mórmon esteve sediado em Salt Lake City por muitos anos e são bem conhecidos por suas críticas cuidadosamente documentadas de Mormonismo. A sra. Tanner, viúva e em idade avançada, segue seu Ministério como um Farol Marítimo, mostrando aos Mórmons em Transição a luz o Evangelho de Cristo com grande dedicação. Seu livro será em breve disponibilizado na Língua Portuguesa.